25.2.06

"O imaginário"


O imaginário de Luiz Carlos Rufo imaginado por ele próprio
SUZANA ROJAS W. HERRERA

Para construir linhas de compreensão do imaginário do artista multimeios Luiz Carlos Rufo, devemos ponderar sobre suas autenticidades artísticas e seu empenho para conquista de mercados paralelos onde sua criatividade possa fazer diferença diante dos resultados de tal prospecção. Sempre foram essas as condições de sobrevivência e de busca pelo espaço visível em sua arte e sua profissão. Rufo cuida de suas criações com enlevamento, singularidade no ato de criar sem esquecer suas caras referencias e sua condição de insurgente dentro do mercado das artes.
A persona desse artista valoriza-se pelo fato do autodidatismo, de suas condições precárias na adolescência em busca do belo e do inclusivo. Sua arte depura-se de suas características inatas. Rufo vangloria-se por ser artista formado pelo empenho e pela curiosidade de quem se instrui por esforço próprio sem enaltecer exemplos aparentes. Jactancioso de suas próprias doutrinas e pelos conhecimentos que provinham unicamente de suas experiências mimetizadas, captadas, do mundo externo, ou através dos sentidos de seu mundo intrincado e subjetivo; pela introspecção, reflexão e expressão apregoa descartando as verdades impostas substituindo-as por revelações transcendentes de um misticismo próprio ou apriorísticos em sua inata inclinação para as capacidades do fazer espontâneo. Sua arte tem o poder de revelar-se quando temos contado com ela. Suas obras passam por um processo de catalogação em seu atelier e são arquivadas e acondicionadas antes mesmo de virem a publico, passando décadas como preciosidades arqueológicas enterradas pelo próprio autor. Rufo revela sua vocação para as artes plásticas acentuando seus pendores para o fazer artístico misturando o ato de ver do ser humano com o fato de haver um sentimento sempre recôndito.
A propensão para as artes manifestou-se logo cedo na vida desse artista paulistano. Aos 12 anos recolhia argila nos córregos existentes no bairro da Penha para descobrir formas e representar a realidade passando a fazer peças que retratavam mulheres, casais e trabalhadores. Utensílios como cinzeiros e bandejas pintados com guache depois do barro seco no forro de sua casa, nessa época já expunha em praça pública todo o resultado desse trabalho solitário. Aos 15 anos expôs seus trabalhos pintados em esmalte sintético sobre madeira nas feiras de artes que surgiam em São Paulo. Essa experiência já revelava quais seriam suas diretrizes: fazer arte própria e buscar as condições convincentes para divulgá-la e vendê-la. Seu marketing pessoal surgiu dessas experiências de carregar e vender seus trabalhos para praças e exposições coletivas, criar postais reproduzidos a mão, um a um. A experiência na confecção de peças em metal em série o levou a adotar a gravura como meio de vender mais e mais barato. A arte como algoz e elemento devorador de seu cotidiano o manteve submerso nos projetos que idealizava em labuta diária, e se misturava as atividades de jornalismo e comunicação, aproveitando cada evento profissional para inserir amostras, criar objetos/prêmios, projetos de interação entre grupos profissionais no Brasil e no exterior, exemplo disso são os projetos "Locus Móbile" e "Solanas nas Nuvens", esse último com a publicação de gravura com tiragem especial de 68 cópias de metal e técnica mista.
O mercado de arte para Luiz Carlos Rufo é inexistente. Suas obras são comercializadas diretamente com os colecionadores interessados, as vendas acontecem ao acaso para públicos diversos como empresários, decoradores ou admiradores, já cativos pela exuberância criativa de seus trabalhos e pelo aprofundamento de sua constante e mutável temática. Por esse motivo eclético descobrimos as mais variantes técnicas dentro de sua profissão de artista. Desta aptidão para com a multiplicidade profissional tira seu sustendo e os patrocínios para sua investida em arte. Das atividades em jornalismo encontra facilidade em divulgar seus conceitos e idéias. Considera o advento da internet a salvação para os que têm algo a mostrar. Seu trabalho profissional guarda semelhanças inconfundíveis com os que realiza na arte por guardar características da personalidade e primando pela qualidade estética e inteligência funcional para com a oportunidade de negócios. Seu tempo e seus temas misturam-se aos desafios diários. O tempo na obra de LCR inexiste, seus personagens podem surgir do barroco, da Roma antiga, de catedrais, da Grécia, das margens do São Francisco ou das batalhas dos mouros, de uma seção de desenhos. A idiossincrasia pauta sua inserção nos grupos, sendo ao mesmo tempo integrado e apartado do meio artístico contemporâneo. Essa característica comportamental e personalística que identifica suas atuações, seus projetos e suas intenções artísticas e estéticas relacionam-se no espaço real e virtual de seu atelier. Suas obras e seus relacionamentos com mercado consumidor advém dessas experiências.
Admirador de artista correlatos e protagonistas do fazer artístico, Rufo não se coloca em dúvidas ou em questionamentos nos afazeres de sua arte no cotidiano, ao contrário integra-se principalmente as concepções estéticas dos interiores dos Estados. Rufo imita e traduz temários de sua terra sem ser folclorista; imita as formas do ver natural sem ser naif; convida e confabula com artistas de todas as esferas e suga de cada um o seu melhor; admira e divulga a todos e faz deles referências para a amizade; sua arte é formada desses relacionamentos, sem que abandone a forte essência inata de seu trabalho solitário e o seu poder criativo.
Quanto aos movimentos de arte e influências, Rufo percorreu o barroco mineiro, conheceu, admirou e rechaçou artistas das décadas de 70 / 80 / 90, os mestres paraenses da madeira, os fazedores de piroga de Parati, os modernos cariocas, as escola e modismos paulistas, as confrarias, os galeristas e marchands, os artesãos, os grafiteiros e os ilustradores, pintores de carro e de paredes, gráficos, pintores de letras e propagandistas, de toda essa diversidade de profissão e religião. De toda essa riqueza de contatos e diversidades de tendências, luxos e enganos, Rufo soube tirar o melhor para sua obra particular, tornando-a representativa para o artista brasileiro que representa. A busca do reconhecimento no exterior como forma de cativar os mercados para sua arte dá-se agora através de uma estratégia de divulgação e relacionamentos. Cativando e mostrando o que faz de melhor tenta destacar-se e encontrar a oportunidade do reconhecimento. Concentrado nas técnicas e nas limitações que apresentam os materiais coloca em cheque as prerrogativas produtivas de um artista de terceiro mundo. Todas as técnicas são estudadas na execução de suas obras e divulgadas para o debate dentro do seu sistema particular de divulgação que o caracteriza como um artista presente neste século XXI. Curioso notar que se há uma necessidade de construção de um mosaico, Rufo arregimenta conhecimento básico, prepara o atelier e começa a trabalhar. O resultado é considerado trabalho de arte com características sofisticadas, casuais e com defeitos, o que para o trabalho do artista é considerado um fazer artístico, onde o limite de informação se transforma em possibilidade, onde o limite de materiais se transformam em exuberância.
A arte de Luiz Carlos Rufo ontem, hoje e no futuro estará sempre relacionada ao amor pelas artes visuais. Nunca esquece que desde a infância distinguia o colorido na decoração das carroçarias dos caminhões e das carroças que eram pintados por mestres anônimos; das decorações das vestes dos padres na missas, na arquitetura anarquista das barracas de quermesse. Essa experiência com as visualidades do cotidiano influenciava e refletia sobre suas identificações, seus elementos atrativos, seus signos, e sua crença em que tudo poderia transmutar-se em arte, arte esta que se apoderou de suas expressões. Na verdade, Luiz Carlos Rufo sempre buscou sobreviver e sua propensão para com a arte e seus esforços para com seu aprendizado autodidata, o levaram a se fortalecer e criar uma imagem comercial para venda de seu projetos em comunicação.
Podemos ver e admirar o artista que há nele, e reconhecermos nesse esforço o homem que busca sobreviver através de sua única saída, a criatividade.

"Entrevista com Luiz Carlos Rufo"

SUZANA ROJAS W. HERRERA

• Por que a gravura?
A gravura seja em metal com técnicas nobres ou madeira primitivamente escavada guarda em si a surpresa da imagem oculta. Considero esse mistério da imagem inclusa na técnica e a serviço do imaginário uma de suas maiores qualidades. Quando o artista grava sua criação não pode dominar o resultado da imagem impressa posteriormente, e isso surpreende até o próprio artista, imagine o público. Muito se fala do domínio da técnica de gravar e de grandes impressores, mas decerto nenhum desses senhores sabe o que advém de tal imagem. A despeito de suas veias de expressão para com a espiritualidade, a gravura foi, é e sempre será a sobrevivência do artista. Lívio Abramo assim como Marcelo Grassmam (incomparáveis gravadores brasileiros) fizeram gravura com intuito de ganhar dinheiro. Picasso, assim como Salvador Dali não foram diferentes nesse raciocínio. A gravura é moeda corrente, de valorização moderada por sua multiplicidade e de peso acessível.
• Quais são suas principais afinidades com o material para se desenvolver um trabalho artístico?
O material que o artista tem disponível influencia diretamente o ato de criar e sua produção. A proximidade dos materiais, concluem o que o artista pretende, digamos que o material é a metade do artista e sem ele estaríamos diante de um teórico das artes manufaturadas. Quando dou inicio a um trabalho criativo imagino-o através de sua materialidade e me agrada ou desagrada vê-lo já em minha frente transfigurado no barro ou na tinta sobre telas. Muitas vezes adquirimos o material para depois de muita confabulação transmitir-lhe o que manda o ato de criar.
• Fale sobre a imposição da técnica no processo de criação em gravura.
Os processos diversos da gravura, impõe ao artista um labor, uma profissão. Muitos artistas delegam o fazer técnico a outro por não se enquadrar nas rígidas etapas para se conseguir resultados favoráveis, ou aceitáveis pelo mercado. Como exemplo podemos citar os impressores que são verdadeiros artistas profissionais a serviço da criação de outrem. Isso se dá também na escultura quando lançamos mão de um múltiplo em bronze ou vidro de um nosso original. A monotipia é uma técnica de gravura que uso muito, mas para esboçar idéias rápidas e criar surpresas imagéticas, nunca como algo maior em minha estética.
• Há regras a serem seguidas sem prejuízos ao ato criativo?
De maneira nenhuma a submissão da criação à técnica modifica para pior qualquer trabalho que seja. Temos artistas dispostos a isso e os não dispostos que lançam mão de técnicos que os assessorem. É uma maravilhosa experiência colocar um desenho seu, por exemplo dentro dos limites de uma água forte ou de uma maneira negra.
• O que pensa sobre o olhar do público em relação a sua gravura?
O público na maioria das vezes confunde trabalhos com soluções e técnicas gráficas de arte com reproduções gráficas que são coisas completamente distintas, parecidas mas diferentes em seus valores conceptivos. A admiração por uma gravura carece de informação, de cultura sobre o assunto. Aprecia-se melhor uma lito quando a distinguimos em sua concepção. Percebo que o público geral não faz a mínima distinção da beleza de gravados, da expressividade se um risco em baixo relevo ou dos leões com cabeça de mulher de um cordel. Infelizmente sabemos que o público é o elemento que menos merece a tarefa de criar do artista.
• Qual a tiragem ideal para que a gravura mantenha seu valor artístico?
Para avaliarmos uma tiragem e determinar-lhe o termômetro de valores artísticos, deveríamos primeiro saber sobre seu público consumidor. Uma xilogravura sobre São Jorge editada no nordeste poderia atingir uma tiragem de milheiro e mesmo assim manteria seu valor artístico, pois seus múltiplos se espalhariam por vilarejos de crença fé. Já uma sofisticada chapa de cobre contendo uma técnica mista com impressão em diversas cores deveria ter sua tiragem baixa, em torno de 40 múltiplos, e ter sua chapa danificada, assim preservaria seu valor sobre a arte e o mercado.
• Há quantificação ideal para cada técnica empregada? Sem levar em conta o valor de mercado do artista, por exemplo: uma litografia vale menos que uma água forte?
Existe uma quantificação já estabelecida por artista colecionadores e técnicos e nesse universo prega-se que a de mais valia seriam as trabalhadas no metal. A de valores mais popularescos caem sobre a lito mesmo a despeito dessa pedra estar em extinção. Aqui não avalio, e não insiro na discussão, a serigrafia por não considerar essa técnica inserida no que chamamos de gravura e nem por atribuir a ela qualquer valor para comparação.
• Como chegou a gravura e o que essa técnica significa para sua expressão artística?
Já desenvolvi trabalhos usando as mais diversas técnicas da gravura em metal. Ative-me por muitos anos a técnica de água forte, no caso trabalhando com alto relevo, ou seja, pintando a imagem auto contrastada e igualando seu fundo e imprimindo a uma cor ou em relevo seco. Comecei experimentando o metal através da gravação com ácido nítrico e pintura a neutrol. Em meu fazer artístico a gravura ocupa um espaço mais místico de minha criação. Sei que não domino e nunca dominarei essa técnica e essa limitação dá passagem para o que de melhor posso intuir.
• Qual das técnicas em gravura você prefere?
Metal.
• Quais desenvolve, hoje, com mais precisão?
Nenhuma.
• O que pensa da arte como forma de expressão?
É a língua universal. Através dela o mundo não se limita e as pessoas transitam livres.
• O que pensa da arte como forma de sobrevivência?
Como sobrevivência do corpo, do seu próprio e os de seus dependentes, é trabalhoso e sem graça. Mas quando estamos felizes e nossa alma flue, a garantia de sobrevivência cósmica através da arte é de sabor inigualável.
• O que pensa da arte como valor de moeda?
É um trabalho como outro qualquer e deve ter um valor terreno.
• Sua arte preocupa-se com questões sócio-políticas?
De maneira nenhuma, mas como sou uma pessoa acho que muita coisa burla meus filtros artísticos.
•A arte inserida em um contexto sociológico é arte engajada?
Arte sempre será arte seja ela sacra, profana, da moda ou panfletária.
• Quais as principais influências em sua produção artística?
Quando vejo arte, ou acho que vi arte, tento copiá-la fielmente, quero colocar nela minha rubrica e nessa ânsia meu esforço de ser fiel a tal influência é tão verdadeiro e energético que acabo criando algo incomum e bastante distante do primeiro motivo.
• Como é seu processo de trabalho para transferir a criação para a gravura?
Não transfiro criação. Crio sobre o material, faço o que o material dita. Apresento ao material minhas intenções e o fecundo com minha presença.
• Como se dá o seu processo criativo?
Diariamente, ininterruptamente, constantemente sem que me dê conta de que esse seja um estado de espírito. O processo criativo é coluna de sustentação do meu ser curioso, famélico e amedrontado.
• A seu ver como está a gravura hoje, dentro dos aspectos mercadológicos, técnicos e criativos?
Não faço idéia. O mercado hoje é bastante complicado. Quer um exemplo? Li no jornal que um marchand brasileiro viaja a Alemanha para comprar ou negociar quadros de uma certa escola de pintores, que agora está em alta no mercado de arte, afirmando que faz isso por não haver realmente pinturas de valor sendo feitas neste século. Ao constatar que alguém tenha o poder de proferir essa afirmação e que tal informação encontre eco em um veículo de informação digo que não faço idéia de como anda esse meio. Sei que o dinheiro e a influência continuam indicando grandes artistas para o podium e determinados palermas se auto- intitulam marchands brasileiros.
• Quais os usos que você faz da gravura?
Não faço nenhum uso da gravura, imprimo pouco. Gosto mais de produzir coleções de aquarelas e técnicas mistas, pois nelas desenvolvo desenhos únicos, mas agrupados em temas. Minha coleção mais recente é "Arvore 637" que consiste numa caixa com 637 aquarelas que tem como temática a árvore.
• Os processos técnicos da gravura só evoluem quando o artista os transgride, e só seus futuros estudantes passam a considerá-la inserida. O que você diz sobre isso?
Essa é uma verdade inabalável dentro da história da gravura. Concordo que a transgressão da técnica se configure logo a seguir como evolução da técnica.
• Você considera o temário de seu trabalho interiorizações ou a exteriorizações da arte?
As aparições que decorrem do meu fazer artístico não tem lado nem partido. Não se assemelham e nem se estranham elas existem como existe o fora e o dentro.
• Por que produzir? No que isso melhora sua existência?
Essas questões são inexplicáveis aos olhos de nossa educação cartesiana com vivencias neo-liberais.
• Fale de suas formas de expressão.
Sou artista. Lanço mão de técnicas e materiais para dar concretude a tudo o que se esfumaça em mim. Escrevendo, fotografando, desenhando ou andando pelos caminhos que se me apresentam sei que me expresso e só sei que me expresso quando alguém me pergunta sobre minhas formas de expressão.
• Fale de sua linguagem simbólica.
Tudo o que não compreendo em minhas aparições plásticas são denominadas por mim de simbólicos por pura ignorância ou inapetência de compreendê-las.
• Fale de sua plasticidade.
Meu trabalho tem nuances de abstrato e manchas figurativas. A paleta de cores não funciona bem, pois pinto com as cores que estiverem disponíveis como se eu enxergasse em preto e branco. Os volumes, os matizes, as texturas simplesmente ocorrem. Não planejo nada para a plasticidade em meus trabalhos.
• Quais foram seus principais percursos como artista?
Desde sempre quis desenhar e desenho até hoje.
• A técnica está a serviço do que você pretende como criador ou apenas é um suporte de menor valor?
A técnica é saber se está no plural ou no singular a frase que acabamos de compor.
• Conte-nos sobre seus processos de trabalho.
Estou envolvido na produção do fazer artístico. Hora faço esculturas, hora desenho ou rabisco. Digo que com a idade os processos produtivos se avolumam, pelo menos em mim.
• Como escolhe suas temáticas?
Elas me escolhem.
• Considera sua produção satisfatória, ou poderia estar produzindo mais, caso as questões de mercado fossem diferentes?
Se as condições mercadológicas fossem mais favoráveis estaria gozando a vida e com certeza teria parado de produzir.
• Fale-nos um pouco sobre as outras técnicas em que trabalha.
Uso lápis de cor, ecoline, aquarela. Acrílica sobre tela, sobre madeira. Escultura em pedra sabão, concreto celular, madeira. Há muito o que se fazer.
• Considera-se artista pelo volume e conteúdo do que já produziu?
Mesmo que não houvesse realizado nenhum risco nessa terra, mesmo assim seria, e sou, artista.

A ÁRVORE

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ateliê Árvore 6.3.7.

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Quem sou eu

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São Paulo, São Paulo, Brazil
Na condição de artista compreendo que o melhor da experiência está em conhecer o artista, o outro. Como numa faceta de mil etapas; como num espelho sem resplendor; como se fossemos sós sem isolar-se, entender a falange que segue desde tempos imemoriais. Na condição de artista reconhecer-me na arte, a outra, e buscar no artista, o outro, a identificação, a qualificação, a aprovação de atos criativos até então sem respaldo. Dialogar com as obras de Deneval Ramos, em uma vasta oficina, solitariamente, é passar a pensar na força dos músculos, na respiração e no compasso, na vontade de viver. Na condição de artista reconheço, sem espelhos, a força do fazer independente; na vontade constante, na clarividência de olhos que se fixam mais além. Dialogar naquela tarde tranqüila, com as figuras de Deneval Ramos, antes da curadoria de sua exposição, percebi, com asseveração, o quanto são importantes essas obras e o forçam, indiscutivelmente, a viver. Luiz Carlos Rufo - Diálogo com Figuras. Luiz Carlos Rufo nasceu em 1956, na cidade de São Paulo-SP.